O filme começa com um ragtime (música popular americana na década de 1910) e parece dar ritmo e leveza à trama que se passa em Chicago na década de 1930, mas parece ter sido composta para Golpe de Mestre, pois o filme tem o ritmo da música, é impressionante.
Johnny Hooker (Robert Redford) é um trapaceiro de primeira que comete pequenos golpes e, geralmente, conta com a ajuda de outros da sua estirpe. Apesar disso, está sempre em enrascadas e não tem o dom de administrar seu dinheiro, gastando-o em jogos, bebidas e mulheres. E, apesar das trapaças certeiras de Hooker, ele sempre está em apuros, nos levando ao pensamento de que, agora sim não terá mais como escapar. Este jogo com o espectador será do começo ao fim, levando-nos até o ponto de ficarmos tristes e decepcionados quando ele está num beco sem saída ou há um fato definitivo onde não há mais nada que se possa fazer.
Reparem, numa das primeiras cenas do filme, quando Hooker evita um assalto. É tudo muito rápido e o espectador precisa ficar atento a todos os detalhes, caso contrário, correrá o risco de não entender como toda a cena aconteceu. É divertidíssimo e surpreendente.
O filme é dividido em seis atos: A Armação; A Isca; O Conto; O Telégrafo; A Recusa e O Golpe.
Luther Coleman (Robert Earl Jones) e Hooker cometem um golpe, mas não sabiam que o enganado era um dos capangas do gângster/banqueiro Doyle Lonnegan (Robert Shaw) que carregava consigo o dinheiro do patrão. Após isso, Coleman é assassinado e Johnny é intimado a recuperar o dinheiro pelo corrupto detetive William Snyder (Charles Durning).
Hooker engana Snyder e foge à procura de um velho amigo de Luther, o também trapaceiro Henry Gondorff (Paul Newman). A partir daí, eles tramarão um golpe que, se der certo, garantirá suas aposentadorias.
Na segunda parte (A Isca), fiquem atentos à conversa entre Henry e Johnny em relação ao golpe que cometerão no jogo de pôquer. É antecipada, de forma pontual, as cenas que virão a seguir. O mais interessante é que nem tudo é dito e, por isso, o público é surpreendido com nova continuidade do golpe.
O filme é repleto de sutilezas imagéticas e de interpretação. Por exemplo, quando Hooker está sentado junto à janela de um trem e recebe uma carteira de couro. Percebam as imagens que representam a paisagem de fora. É espetacular, pois elas são em preto e branco. Ou, ainda no trem, quando Johnny mede, de cima a baixo, um dos seguranças que está diante da porta da cabine de Lonnegan. Divertida a cena, pois vemos, apenas os olhos de Hooker, por cima dos ombros do segurança, subindo e descendo.
À medida em que o filme caminha torna-se mais envolvente e carismático. Mas outro fator que desperta um grande interesse, paralelo à história, são as artimanhas utilizadas pelos golpistas, de ponta a ponta na trama. Reparem, atenciosamente, como Lonnegan substitui as cartas do jogo por outras que seu capanga preparou.
Apesar das trapaças, certeiras de Hooker, ele sempre está em apuros e nos faz pensar que da próxima vez ele não irá escapar.
O trabalho de direção de arte e design de produção são magníficos. É muito encantador ver os cenários representando Chicago nos anos de 1930. Os carros, as lanchonetes/restaurantes, as fachadas dos prédios etc.
Outro ponto alto é o figurino. Os homens elegantes trajando terno, chapéu, às vezes smoking. Tudo muito bem cortado, alinhado e desenhado de acordo com as características da época.
O roteiro é brilhante. Tudo se encaixa perfeitamente, do início ao fim. Nada está fora do lugar, tudo é muito claro e certeiro. Tanto é que, o final do filme é arrebatador. Causa furor, espanto mas não frustra ou engana. Afinal está tudo explicado, dito e repetido durante toda a história.
(Re)ver Golpe de Mestre pode tornar-se um vício, pois a cada nova visita, o espectador certamente, descobrirá novos detalhes, sejam eles visuais ou naturais da própria trama. Além do que, é uma excelente aula de como escrever um roteiro preciso.
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