Antes de (re)ver um filme, dá uma olhada aqui!

Sabe aqueles filmes de ontem e anteontem que você viu e já esqueceu ou nunca viu, mas tem certeza que sim? Então! Dá uma olhada nestes aqui. Quem sabe ajudamos você a relembrar algumas cenas, elementos curiosos que aparecem nas imagens, ou mesmo, dizer algo que você realmente não viu. E, se não incluímos um detalhe, que você acha importante, comente e enriqueça as análises. Divirta-se!

Pesquisar este blog

quinta-feira, 18 de março de 2010

Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991), de Joel Coen




Barton Fink (John Turturro) é um escritor de teatro em ascenção na Broadway na década de 1940. Após sua última peça ser considerada um sucesso pela crítica ele é convidado a escrever em Hollywood. No início Barton reluta, mas decide encarar o desafio e muda-se para Los Angeles.
Ao conversar com o chefão do estúdio Capital Pictures, Jack Lipnick (Michael Lerner), Fink têm de escrever um roteiro sobre um lutador de boxe. Acontece que, não conhecendo absolutamente nada sobre este assunto, o escritor se vê incapaz de iniciar uma história. Isto o angústia e o tempo é muito curto, pois em uma semana ele deverá entregar a ideia principal a Lipnick. Este nome, aliás, em português teria uma tradução mais ou menos como lábios que picotam ou lábios que entalham. Observem o modo de falar do personagem. Parece um telégrafo.
Quem já viu algum filme dos irmãos Coen sabe que há sempre um sujeito esquisitão na trama. E este filme não foge à regra. São pessoas estranhas, com trejeitos nem um pouco normais, mas que nos surpreendem pelas atitudes não condizentes com o visual. Geralmente são inteligentes e astutas, pois têm objetivos concretos, mesmo que passem por percalços durante a trama. Quando você já está certo que o personagem é estúpido ou bobo ele tem atitudes inteligentes.

Após você começar a se convencer que ele é bem esperto, o personagem comete atos muito estúpidos, quase infantis. É uma forma brilhante que os irmão Coen encontraram para que o espectador sempre preste atenção no protagonista a fim de tentar descobrir qual será seu próximo passo. Estúpido ou inteligente? Barton Fink é um destes sujeitos.
O nome tem muito a ver com o personagem. Fink pode-se entender como think, ou seja, pensar/imaginar em inglês.

Prestem atenção no personagem Charles Meadows (John Goodman), vizinho de quarto de Barton. Fundamental na história, segue a mesma linha de comportamento descrita acima.

Percebam como o Hotel Earle, em que Barton se hospeda, é tão esquisito como ele. Exagaerdamente cafona, kitsch e curioso. Mas, ao mesmo tempo, tudo estranhamente combina. É claro notar o belo trabalho de direção de arte em que os ambientes se encaixam no personagem e vice e versa.

O corredor do hotel é algo encantador. Comprido, obscuro e com um ar de assombração. Vemos uma simetria muito bem calculada, complementada pelos pares de sapatos em frente a cada porta dos quartos. Apesar de bem iluminado, chega a dar arrepios e nos faz pensar que algo de errado está para acontecer ali.

Ao chegar no quarto do hotel, Fink olha para a escrivaninha e depara-se com um bloco de papel e um lápis, sem ponta. Os detalhes neste filme é que fazem a diferença. É muito interessante.

Outro aspecto curioso é ver como funciona(va) a indústria de Hollywood em determinado aspecto, como neste caso, na visão de um roteirista - mesmo que haja um certo exagero dos personagens, pois são caricatos e não têm a preocupação em nos mostrar algo próximo à realidade.

Em relação à realidade, não nos é informado de forma clara e direta quando o filme transforma-se em um sonho/pesadelo de Barton, mas certamente quando o presidente do estúdio beija os pés de Fink podem ter certeza que daí em diante o protagonista já está sonhando. A impressão que se dá é a partir do momento em que Audrey Taylor (Judy Davis), mulher e secretária do conceituado roteirista W.P. Mayhew (John Mahoney), amanhece ao lado de Fink podemos, também, considerar como um delírio de Barton.

Há outra dica da fusão entre realidade/não realidade quando Barton lê um trecho da Bíbila. Ao invés de conter os textos naturais ao livro há, em seu lugar, o início do roteiro que Fink escreveu.

Os irmãos Coen adoram colocar em seus filmes algo que chama-se Mc Guffin, ou seja, um objeto que, a princípio parece ter alguma importância para a trama, mas no fim das contas é irrelevante e serve apenas para distrair a atenção do público. Há dois objetos que chamam atenção durante boa parte da história. Um pequeno quadro com a figura de uma mulher, de costas, sentada na praia e um embrulho que Charles entrega a Fink. Descubram, na última cena do filme qual dos dois dois objetos é um McGuffin e qual tem real importância e faça com que percebamos que tudo no filme tem um propósito.








Reparem a semelhança entre o personagem e o cineasta Woddy Allen; não só fisicamente, mas também os papéis que Allen representa nos cinemas. O cabelo desgrenhado, os óculos, as roupas amarfanhadas; Barton é judeu, escreve peças de teatro, cinema e, além disso, é histérico, neurótico, questionador do cotidiano etc. Se puderem, assistam ao filme Noivo Neurótico Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen.

(Re)ver Barton Fink é acompanhar uma história que começa e não termina onde não sabemos o que é sonho e o que é realidade. Enfim, é ver cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário